A1 - Distúrbio

Enquanto Reno, um dos guardas, subia até o andar de cima para verificar os quartos, os outros dois vasculhavam os pertences dos viajantes. Entre equipamentos variados e suprimentos para viagem, alguns dos items foram mostrados ao guarda que liderava o grupo, e que havia se dirigido a Jekyll anteriormente. Garos chegou a reconhecer os frascos de poções curativas e as ferramentas de ladino, porém, sem motivo para ordenar o confisco dos itens, simplesmente disse-lhes para retorná-los. Um leve toque de insatisfação se via na expressão de Garos, que aparentemente esperava que aqueles dedos ensanguentados fossem obra dos viajantes.

 - Vamos ter que revistar o interior do lugar, se nos permite. - Perguntou ao taverneiro, que prontamente guiou um dos guardas pela porta atrás do balcão, enquanto o outro se dirigiu aos visitantes, para revistá-los.

 - Não, deixe que eu revisto eles. - Disse Garos. - Vá ver porquê Reno está demorando tanto. - Ordenou. Certamente, se havia mais alguém nos quartos, o guarda o teria guiado para baixo, e se não, teria voltado do mesmo jeito.

Garos não teve nem tempo de se aproximar de Judas quando o outro guarda soltou um grito de espanto a meio caminho dos degraus para o andar de cima, atraindo a atenção de todos ao vencer os últimos passos em direção ao que lhe causou tanto alame.

Ao pé do último degrau, com um rosto extremamente pálido, Reno estava caído no chão, imóvel.

Mal deu tempo de Jekyll se encostar que já voltava para dentro da taverna. Equipamentos em cima das mesas, viajantes com caras amarradas pelo explícito desgosto de estarem sendo revistados e guardas com as caras assustadas pelo que acabara de acontecer.

- Mas por tudo o que é mais sagrado, o que está acontecendo nesse lugar?

Controlando o impulso de apanhar sua espada, e não testemunhando o revés do pobre homem, mantém-se imóvel por mais algum tempo afim de analisar os últimos acontecimentos.

-Parece que um de seus homens está com problemas lá em cima chefia...


Judas dirige o olhar ao topo da escada agradecendo a própria sorte, talvez esse caos faça com que ele passe despercebido na revista. Estava muito preocupado com seu fetiche, uma mão humanoide embalsamada que carregava em torno do pescoço, por baixo das vestes, e que com certeza chamaria a atenção desse guarda metido a capitão.

Ellaria manteve-se imóvel enquanto os guardas vasculhavam pelos seus pertences e de seus companheiros de viagem. Vagava pelos próprios pensamentos tentando entender o que diabos estaria acontecendo naquele lugar e porque justo quando estavam ali quando o grito do guarda a trouxe de volta à realidade. Num gesto quase que mecânico segurou firmemente o arco virando-se em direção ao grito.

O súbito incidente com o guarda no topo da escada deixou não apenas os guardas, mas todos em alerta.

 - Taverneiro, o que está acontecendo? Há mais alguém lá em cima? Você está hospedando alguém e não nos disse?


 - D-De forma alguma, senhor. - Gaguejou o velho, temeroso. - E-Eu não sei o que pode ter acontecido.

A preocupação do guarda era visível, e ele estava apenas um pouco menos abalado do que os outros dois, que ao perceber o que tinha acontecido, imediatamente se puseram a socorrer o companheiro. Estavam hesitantes, e com razão. Com os únicos visitantes ali presentes, e nada que indicasse que algo de errado havia acontecido antes que fosse tarde demais para o jovem Reno, ficava a pergunta no ar de como algo assim pôde acontecer. Os quartos estavam vazios, um dos guardas fez questão de se certificar disso, o que aumentou sua confusão e incerteza quanto ao incidente.

No meio dessa confusão, algo chama a atenção tanto de Ellaria quanto de Judas, ao voltarem os olhares para os pertences do grupo: um pequeno frasco com um líquido escuro, e algumas agulhas, que certamente não estavam ali antes.

Jekyll se aproxima mais do jovem guarda caído ao chão, avaliando a gravidade do ferimento. Ele olha para cima, em direção aos quartos, e uma súbita coragem misturada com sua fé o faz tomar uma decisão:

- Guardas, eu vou subir até lá. Se houver algo maligno, eu posso tentar expulsar do nosso mundo.


Não sabia se isso era verdade ou não. Pelo menos nunca tinha tentado algo do tipo antes. Mas alguma coisa em seu interior o dizia para tentar.

Nesse momento de tensão Judas procura uma brecha para se livrar daquele inconveniente que é ser questionado e revistado. Já havia passado por maus bocados nas mãos de autoridades, mas dessa vez estava tranquilo pois realmente não tinha nada haver com o que ocorria no local. 

Mas então ele nota algo próximo aos seus pertences: um frasco com liquido misterioso que não estava ali e, junto ao frasco, um conjunto de agulhas. 
Tinha quase certeza que se tratava de veneno, o que o surpreendeu pois, entre todos os seus companheiros de viagem e os outros presentes, lhe parece que ele seria o único a carregar uma arma de tamanha covardia.

-Posso guardar minhas coisas capitão? - se dirigindo ao líder dos guardas.

"Mas que diabos" pensa em um murmúrio praticamente inaudível. Retomando suas posses e abotoando novamente a bainha ao cinto. Aproxima-se do balcão com cautela, analisando cada detalhe do recinto e seus ocupantes.

-- Ele está morto?

Com toda a confusão de aranhas gigantes, dedos humanos e guardas caindo mortos, foi fácil para Ellaria se distrair de seus pertences. Ao voltar sua atenção à ele notou algo no minimo estranho. Tinha quase certeza de que se tratava de um veneno, mas como ele aparecera ali era uma grande dúvida. Seus olhos correram pela face de seus companheiros de viagem, dos guardas que restavam na sala e do taverneiro. Algo não cheirava bem. Se precipitou até a mesa e recuperou suas coisas, torcendo para que aqueles miseráveis não tentassem incriminá-la. Ah, mas ela sabia que não seria tão simples assim.

Com as atenções voltadas ao guarda desfalecido, Garos não deu muita importância aos apelos e reclamações dos viajantes, e enquanto Jekyll se dirigia ao andar de cima, simplesmente retrucando com um "Que seja" de má vontade, enquanto um dos guardas se dirigia a um dos quartos com extrema precaução, esperando encontrar algo ou alguém que possa ser responsável com o que aconteceu ao jovem Reno, enquanto o outro tentava, sem sucesso, reanimá-lo.

 - Padre, faça alguma coisa! - Disse o guarda assim que Jekyll chegou perto o bastante.  - Ele não está respondendo a nada!


Por cima de todo esse alvoroço, o ambiente rapidamente adquire uma certa tensão, e à medida que o quadro se desenha, suas proporções mais sinistras vêm à tona. Com os viajantes tendo chegado à vila apenas naquela manhã, e não tendo saído de vista o tempo todo, seria impossível que tivessem armado uma emboscada para Reno, e, somando-se a isso o incidente com a aranha e os dedos, a leve impressão de que algo estranho e desconfortável ocorria ali começava a se tornar mais do que mera impressão.


E enquanto Ellaria rapidamente recolhe seus pertences, tendo notado o frasco e agulhas e não querendo que tais items fossem associados a ela, a meio-elfa tem a impressão de perceber passos tão leves indo em direção à saída que poderiam perfeitamente se passar por uma invenção, uma peça pregada por sua mente, já que não havia nada nem ninguém ali, enquanto um igualmente leve odor de terra úmida e damas-da-noite fazia-se sentir.

Compreendendo ser desnecessário aguardar a óbvia resposta de sua pergunta, Ivan aproximando-se o melhor possível, dirige-se ao oficial aparentemente no comando.

-- não seria mais prudente isolar o local e reunir reforços? Aparentemente quem.. ou melhor, o que está por trás disso, pode estar em qualquer lugar desta cidade. Se necessário, estou a disposição para colaborar na busca desse criminoso..

Matt G. escreveu:- Padre, faça alguma coisa! - Disse o guarda assim que Jekyll chegou perto o bastante.

- O que você quer que eu faça? Eu sou um padre, não um médico!

Assim que termina de falar, Jekyll ouve um dos forasteiros falar:

Genéric player 1 escreveu:-- não seria mais prudente isolar o local e reunir reforços? Aparentemente quem.. ou melhor, o que está por trás disso, pode estar em qualquer lugar desta cidade. Se necessário, estou a disposição para colaborar na busca desse criminoso..

- Concordo com o que ele diz. Mas acho que as buscas deveriam ser feitas inicialmente aqui, onde todos esses acontecimentos têm nos atormentado. E eu acho que eles deveriam ajudar nas buscas, estando em nossa vanguarda. E me disponho a ajudar nas buscas também da forma em que me for possível.

Notou como os guardas não impediram que Ellaria recuperasse seus pertences então se dirige a mesa e começa a colocar suas coisas em sua bolsa. No meio do processo ele finalmente percebe que quando todos recuperarem seus pertences, os guardas - que até aparentemente não notaram o frasco suspeito junto as agulhas até agora - vão querer algumas respostas quando elas foram as únicas coisas restantes sobre a mesa. Talvez seria uma boa ideia pega-los e esconde-los em sua bolsa... Enquanto termina de guardar suas coisas, Judas observa se algum guarda notaria se ele fizesse isso agora.

Ellaria voltou seu olhar para a porta da saída, tendo a impressão de ter ouvido passos, porém, como esta permaneceu intocada, a meio-elfa voltou sua atenção à mesa onde se encontravam, mais cedo, os pertences dela e de seus companheiros de viagem, o frasco chamará mais atenção permanecendo sozinho e poderá ser facilmente ligado à ela ou a algum dos viajantes. Enquanto pensava sobre o que fazer a seguir para esconder o que parecia ser veneno, Ellaria sentiu um cheiro familiar para quem viveu em floresta sua vida inteira. Se distraiu do fraco e olhou em volta. De onde viria um odor tão peculiar?

A resposta seca de Jekyll surpreendeu o guarda, que já estava quase lhe suplicando para que salvasse a vida de seu companheiro. Quem impediu que os ânimos se agravassem ainda mais foi Garos, chamando a atenção do guarda, e não dando muita atenção aos viajantes recuperando seus pertences.

 - Infelizmente nem os deuses podem salvá-lo agora. - Disse com um level pesar na voz. - O que podemos fazer agora é ter certeza que não teremos outra vítima.

Dito isto, Garos se volta para o após o mesmo recomendar que os visitantes ajudem nas buscas.

 - Já que confia neles a este ponto, padre, então a responsabilidade sobre eles, e quaisquer outros problemas que vierem a causar, será toda sua. - Reafirmou. A escolha de palavras foi intencional. 'Outros problemas'. 'Vierem a causar'. Como se já os julgasse pelo ocorrido, e tomasse por certo que mais incidentes ocorreriam com a presença deles.


Enquanto isso, Ellaria, ao procurar a fonte do leve odor e os ainda mais imperceptíveis passos que sentiu e ouviu, não encontrou nada. Não havia mais ninguém além deles naquela taverna, o que contribuiu mais ainda para sua dúvida.

Durante a discussão, repentinamente a atenção de todos se volta para um dos quartos, onde um dos guardas estava investigando. Sons de golpes sendo desferidos, e cômodos sendo revirados e derrubados, como se uma luta estivesse acontecendo no local.

Matt G. escreveu:Durante a discussão, repentinamente a atenção de todos se volta para um dos quartos, onde um dos guardas estava investigando. Sons de golpes sendo desferidos, e cômodos sendo revirados e derrubados, como se uma luta estivesse acontecendo no local.

Diante a distração dos presentes, recolhe o frasco e as agulhas e esconde em sua bolsa.

Disseram que não havia mais ninguém aqui, claramente estavam enganados, levando a mão ao cabo de sua espada exclama:

--É seu homem lá em cima?! Disseram que não tinha mais hóspedes aqui.. (acessando as pressas o caminho do ruído audível).

Assim que ouve o barulho de luta no andar de cima, Jekyll corre as escadas para conferir o que está ocorrendo. Porém, chegando na parte superior, Jekyll para por alguns segundos, tendo plena ciência que não é um combatente de vanguarda. Jekyll então respira profundamente, e passando os dedos levemente nas paredes e portas, se concentra ao máximo para tentar obter uma resposta de que tudo aquilo que estava acontecendo não seria de pessoas que não obtêm algum tipo especial de conhecimento. Tenta ao máximo sentir se existe algum tipo de magia naquilo tudo em que está agora envolvido...

Ellaria distraíra-se com um cheiro que desaparecera, ao retornar a atenção à mesa viu enquanto Judas dava conta do frasco. Pouco foi o tempo que lhe prestou a atenção, o som de luta vindo de dentro da taverna lhe fez agir rápido sacando o arco.

Apesar dos cuidados tomados, a confusão generalizada que parecia vir the um dos quartos se revelou sendo nada mais que um dos guardas freneticamente atacando algo no canto do cubículo, depois de ter aparentemente arrastado a cama e derrubado a cômoda. No referido canto, um ninho de aranhas se espalhando rapidamente pelo aposento, porém nenhuma delas apresentava tamanho nem sequer próximo daquela que foi vista anteriormente atrás do balcão do taverneiro.

A detecção de magia de Jekyll não revelou nada de anormal, e com o resto do grupo distraído, Judas se apossou do frasco e agulhas sem interrupções. Quando Garos se aproximou da porta do quarto e viu a cena de seu companheiro, provavelmente agindo por impulso, percebeu que toda essa busca foi uma perda de tempo.

 - Temos um assassino a solta em nossa cidade - Diz o guarda com claro desgosto. - Deve ter escapado pela janela. Avisem os guardas dos portões. Se esse criminoso não fugiu, faremos uma busca por cada canto da vila até encontrá-lo. Padre, se quer mesmo que esses estranhos ajudem, você será o responsável por eles, como já disse. Comecem procurando pelas casas ao redor e no mercado.

Os dois guardas prontamente obedeceram as ordens, aliviados de saírem daquele lugar desagradável, especialmente com seu companheiro morto ali perto.

- Então é melhor parar com a conversa e começar a agir. Enquanto estamos aqui, quem sabe o que diabos pode estar escondido em qualquer viela da cidade. Vamos.

Jekyll então desce as escadas e procura pelos estrangeiros, avistando somente dois dos viajantes, ele os fala:

- Ei, já que estavam aqui quando tudo começou, precisamos de vocês para que possamos encontrar e erradicar o que quer que esteja nos atacando. O que acham?

Carl Anthemman escreveu:- Ei, já que estavam aqui quando tudo começou, precisamos de vocês para que possamos encontrar e erradicar o que quer que esteja nos atacando. O que acham?

Eu não trabalho de graça, padre, e muito menos formo milicias em terras desconhecidas. Sinto muito...


Tudo estava muito suspeito, Judas dirige o olhar para o guerreiro esperando que o fanático não decida ajudar nas buscas pelo culpado.

Jimmy Quinn escreveu:Eu não trabalho de graça, padre, e muito menos formo milicias em terras desconhecidas. Sinto muito...

- Olha todos esses guardas. Eles estão apavorados sim, mas ainda assim são guardas. E os estrangeiros por aqui são vocês. Se eles vão pagar ou não, já não me interessa. E acho que na verdade vocês não tem muita escolha. Estou tentando dizer de uma forma menos rude que, ou vão, ou serão presos. 

Judas se espanta com a honestidade do padre e deixa isso claro ao vacilar olhando para chão, levando a mão a boca, em pensamento.

Hmm... Isso não seria muito bom.

Olha para Ellaria por um instante. Pelo que entendeu, o padre está, no fim das contas, fazendo-lhe um favor. Havia se posicionado, não sabia se intencionalmente, a nosso favor. Apresentando-nos como possível ajuda e não como prováveis suspeitos. Resolve confiar no clérigo, e se dirige novamente a ele.

Bem, se meus companheiros estão de acordo eu farei o que puder.